segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

ESCUTAR

 


Acredito que o momento atual na educação é um convite a aprender sobre arte de ESCUTAR e gostaria de convidar cada um de vocês, gestores e professores a pensar e sentir sobre essa arte. Recentemente li um livro que se chama: À Escuta, do filósofo Jean-Luc Nancy[1] (2014, p. 19), onde ele diz: “Escutar é inquietar-se, (...) É estar inclinado para um sentido possível, e consequentemente não imediatamente acessível” (P. 17). “Estar à escuta é sempre estar à beira do sentido, ou num sentido de borda e de extremidade, como se o som musicalmente escutado, quer dizer, recolhido e perscrutado por ele mesmo (...)”. Como estamos escutando a este momento de COVID 19, onde quase todos nós estamos em “isolamento” e afastamento social? Onde boa parte dos lúcidos assiste o descaso político, o abandono das vidas humanas em detrimento do mercado? Onde a desigualdade social continua mantendo os mais pobres no subsolo da educação, enquanto os que tem mais oportunidades e acesso as tecnologias continuam saindo na frente?



[1] NANCY, JEAN-LUC. À Escuta. Edições Chão de Feira. Belo Horizonte, 2014. Quignard, P.

terça-feira, 24 de março de 2020

E AGORA? Os sinais estavam dados

Quem me conhece, sabe que sou uma pessoa otimista, mas confesso que estou preocupada com a pequenez da humanidade.
Neste momento, todos políticos, sejam eles do partido que forem deveriam estar do “mesmo lado” o lado da HUMANIDADE, abandonando as desavenças e vaidades.
Estamos vivendo, um dos piores momentos da humanidade( ricos, pobres, negros, brancos, esquerda ou direita, empresário ou funcionário), todos no mesmo barco.
O Barco da indefinição e irresponsabilidade de muitos.
Ao assistir os telejornais, confesso que sinto vergonha dos nossos representantes.
Ontem participei de um debate, onde uma psiquiatra nos contou que seus dois filhos, médicos e residentes na Itália, estão chocados, lá não há mais caixões e nem lugares para enterrarem seus mortos!
O momento atual, não pode continuar dividindo a humanidade, nossa saúde física e psíquica está por um triz.
O momento é de reflexão, balanço e amor, sim AMOR. Amor com os milhares de trabalhadores que não tem como sobreviver e muito menos como estocar comida e remédios. Amor por nós, amor pela vida, amor com o próximo.
Hoje, vi uma velinha de uns 65 anos catando latinhas no lixo. Me aproximei dela e perguntei se ela precisava de alguma ajuda. Sabem o que ela me respondeu?
- moça, eu não tenho mais nada a perder, nunca imaginei chegar no fim da vida, tendo que vender latas para poder comer. Se esse vírus me atacar, vou agradecer.
Parei e me perguntei: - qual é a minha responsabilidade nisso? Aquela senhorinha não me sai da cabeça. Seus olhos eram de desesperança, medo... vazio de sentimento de amor próprio.
Portanto, amigos e amigas, não podemos esmorecer, temos o dever, de nos fortalecermos, de nos unirmos para além de partidos políticos, preferências pessoais e EGOS inflados.
Todos nós, estamos na mesma enrascada, de norte a sul, de leste a oeste...não sabemos o que será do amanhã. Lembremos que somos parte de uma mesma família, chamada HUMANIDADE.
Se nós, não aprendermos nada com o corona vírus, dificilmente teremos uma nova história para contar.
Portanto, Zema, Kalil, Bolsonaro, Antonio, João, Haddad, Maluf, Lula, Garotinho, Dilma, Dória... lutemos pela Humanidade,depois vocês voltam a duelar e decidem! #CORONAVIRUS #CONVID19 #JANEHADDAD
Jane Patricia Haddad

terça-feira, 29 de maio de 2018

TECER A VIDA: INCLUIR NÃO É TÃO SIMPLES

TECER A VIDA: INCLUIR NÃO É TÃO SIMPLES: Pensar inclusão no ambiente escolar não significa apenas criar “novas” vagas para as pessoas com necessidades especiais na escola regula...

INCLUIR NÃO É TÃO SIMPLES


Pensar inclusão no ambiente escolar não significa apenas criar “novas” vagas para as pessoas com necessidades especiais na escola regular e muito menos apenas seguir as leis”. Incluir é superar nossas próprias dificuldades em aceitar aqueles e aquelas que são diferentes de nós.  Incluir requer um processo a ser construído diariamente, em que a escola se torne acolhedora às diferenças, inclusive em seu currículo e formas de avaliar. Incluir não é uma ação “tão” natural como parece, é uma construção contínua de uma conscientização política de que todos devem ser agentes e, portanto, o sujeito do ato educativo, independente da limitação física, psíquica e emocional.
 Nossa educação ainda se baseia em modelos de “iguais”, em padrões de “qualidade”, “eficiência” e rankings, para alguns alunos e alunas, isso é possível, mas não para todos e todas. Uma sociedade que prima por modelos ideais de beleza, inteligência e desempenho não deve desconectar-se de outras habilidades e subjetividades possíveis.
 Ao acompanhar o processo de inclusão em algumas escolas, venho percebendo pontos essenciais como: as crianças menores não são (ainda) dotadas de preconceitos, pelo contrário elas são muito solidárias e suportam bem seus diferentes; professores e gestores que apostam nos sujeitos, conseguem bons efeitos. Acolher é o primeiro passo de qualquer humanização possível. O primeiro passo é destituirmo-nos do lugar de Sabe-Tudo, do lugar apenas do ensinar, o momento é um convite a apreender com os ditos “especiais” e partir do ponto de que: cada um de nós, em algum momento da nossa vida, terá uma necessidade especial. Quem é o sujeito que adentra nossas escolas¿
A educação inclusiva permite um repensar e uma possibilidade de lançar o olhar para outras diversas direções ainda não visitadas. 
Incluir não é tão simples...Mas é possível! O Maior obstáculo ainda somos nós mesmos.


domingo, 17 de janeiro de 2016

zygmunt bauman: vivemos tempos líquidos. nada é para durar

zygmunt bauman: vivemos tempos líquidos. nada é para durar: Estamos cada vez mais aparelhados com iPhones, tablets, notebooks, etc. Tudo para disfarçar o antigo medo da solidão. O contato via rede social tomou o lugar de boa parte das pessoas, cuja marca principal é a ausência de comprometimento. Este texto tem como base a ideia do ser líquido, característica presente nas relações humanas atuais. Inspirado na obra Amor Líquido - sobre a fragilidade dos laços humanos, de Zigmunt Bauman. As relações se misturam e se condensam com laços momentâneos, frágeis e volúveis. Num mundo cada vez mais dinâmico, fluído e veloz. Seja real ou virtual.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A educação vai muito mal


No texto “Currículo dos Urubus” do livro “Estórias maravilhosas de quem gosta de ensinar”, Rubem Alves utiliza a metáfora:
“O Rei Leão, nobre cavalheiro, resolveu certa vez que nenhum dos seus súbditos haveria de morrer na ignorância. Que bem maior que a educação poderia existir? Convocou o urubu, impecavelmente trajado em sua beca doutoral, companheiro de preferências e de churrascos, para assumir a responsabilidade de organizar e redigir a cruzada do saber. Que os bichos precisavam de educação, não havia dúvidas. O problema primeiro era o que ensinar.
Questão de currículos: estabelecer as coisas sobre as quais os mestres iriam falar e os discípulos iriam aprender. Parece que havia acordo entre os participantes do grupo de trabalho, todos urubus, é claro: os pensamentos dos urubus eram os mais verdadeiros; o andar dos urubus era o mais elegante; as preferências de nariz e de língua dos urubus eram as mais adequadas para uma saúde perfeita; a cor dos urubus era a mais tranquilizante; o canto dos urubus era o mais bonito. Em suma: o que é bom para os urubus é bom para o resto dos bichos.
E assim se organizaram os currículos, com todo o rigor e precisão que as ultimas conquistas da didáctica e da psicologia da aprendizagem podiam merecer. Elaboraram-se sistemas sofisticados de avaliação para teste de aprendizagem. Os futuros mestres foram informados da importância do diálogo para que o ensino fosse mais eficaz e chegavam mesmo, uma vez por outra, a citar Martin Buber. Isto tudo sem falar na parafernália tecnológica que se importou do exterior: máquinas sofisticadas, que podiam repetir as aulas à vontade para os mais burrinhos, e fascinantes circuitos de televisão.
Ah! Que beleza! Tudo aquilo dava uma deliciosa impressão de progresso e eficiência e os repórteres não se cansavam de fotografar as luzinhas piscantes das máquinas que haveriam de produzir saber, como uma linha de montagem produz um automóvel. Questão de organização, questão de técnica. Não poderia haver falhas. Começaram as aulas, de clareza mediana. Todo o mundo entendia. Só que o corpo rejeitava….
E assim as coisas se desenrolaram, de fracasso em fracasso, a despeito dos métodos cada vez mais científicos e das estatísticas que subiam. E todos comentavam, sem entender: A educação vai muito mal…” Qual a parte que nos Cabe? #educacao  #JaneHaddad #Curriculo

domingo, 21 de junho de 2015

Refletindo
Pensar a ordem simbólica, que é o que nos caracteriza como humanos. “O humano é filho ou filha do humano, daí a importância da ordem geracional, da inscrição em uma genealogia, uma história. O humano nunca é solitário, mas sempre solidário” (GUILLLOT, G. 2008, p. 59). Certa vez, li ou pensei, já não sei mais, o que importa é que me marcou muito: “Querer ser mãe não é a mesma coisa de ter um filho”. Tal frase ecoa hoje, mais do que ontem em meus ouvidos. 

terça-feira, 17 de março de 2015

SIM: UM A UM

                                             SIM: UM A UM

Seres humanos apreendem em seu processo de vida.  Ainda que Freire, não tenha escrito diretamente sobre deficiência, seu legado sustenta amplamente a valorização da DIVERSIDADE HUMANA e a construção de uma sociedade mais humana que acolha todos em suas diferenças e semelhanças.   Sugiro que nós educadores tenhamos um tempo-espaço para tal reflexão. O processo de incluir é algo essencial e profundo, ultrapassa o velho debate de “deficientes” e “diferentes” ou mesmo "iguais" ampliar nosso debate é essencial para nossa forma de ser e estar no mundo contemporâneo.
Sugiro partirmos do ponto: Como nós, dito “normais” incluímos àquele colega que pensa diferente de nós? Como enxergamos um sujeito, cujo, corpo e mente nos apresenta diferenças?
Quando as novas gerações adentram as escolas, o que pretendemos ? Por #JanePatriciaHaddad #educacao #diversidade

domingo, 4 de janeiro de 2015


Uma criança sempre é e será uma criança

Ao andar por Namibe, encontrei diversas crianças, algo nelas era diferente das nossas crianças brasileiras: o olhar; 
um olhar que espera;
um olhar que olha fundo; 
um olhar que representa um OLHAR!
Uma criança, que apesar das sua(s) histórias, nem sempre feliz(es), ainda é uma Criança.
#Namibe2014
Jane Patricia Haddad


sábado, 27 de dezembro de 2014

OS ROSTOS ANÔNIMOS HOJE TÊM NOMES: YASMIN, BENJAMIN, ROBERTO...




"A educação é a arma mais forte que você pode usar para mudar o mundo." Nelson Mandela

No mês de Janeiro deste ano (2014), onde entendi que a superfície não me cabe mais, escolha minha. Cansei de ser surda e cega. Viver não pode ser apenas um plano de metas para tantos futuros que estão por vir. Como uma jovem pode confiar em um adulto que lhe arranca seu sonho? Talvez, revendo revistando suas próprias experiências de uma formação educacional que deforma nossos sonhos.
Partirei do seguinte ponto: Por que Nelson Mandela exerce tanto fascínio? Não imagino tal líder, gritando com uma criança ou desacreditando de um jovem. Até porque paramos para escutar Nelson Mandela, porque ele ainda tinha algo a nos falar. E nós temos algo a falar as novas gerações?
No mês de dezembro, quando soube que meu visto havia sido aprovado, inicie minha viagem “interior”, pela província de Namibe, lugar este que embarcaria no dia 12 de janeiro de 2014, a convite do educador Serrano Freire. Nessa província eu encontraria com pessoas que perderam seus entes queridos e seus “bens” durante a longa guerra civil. Uau! O que eu buscaria na África? Além de pesquisas on-line fiz um passeio pela autobiografia de Nelson Mandela “Um longo caminho para a liberdade” do jornalista Ricardo Stengel e comecei a preparar o encontro que eu teria com 1.100 educadores, durante três dias. Meu tema seria: Conflito de gerações: tecendo pontos e desatando nós.
Vale ressaltar, que desde aquela viagem, o mistério da vida mudou e quem dirá o sentido de educar. Entendi para além das teorias, o que, alguns chamam de inteligência emocional. Foi naquela província de Angola, em Namibe, segundo maior deserto do mundo, que eu me dei conta do que eu sentia e o que eu faria com tais sentimentos e penso que isso é o que muitos chamam de inteligência emocional, tão divulgada e acolhida na educação. Eu sabia por que eu estava ali, reconhecia meus sentimentos e teria de aprender adequá-los em uma realidade tão diferente da minha, sem perder meu foco no que fui fazer ali.
Em Namibe, escutei diversas pessoas, que por algum motivo, tinham tudo para desistir da vida, das suas escolhas e principalmente da educação, mas não foi isso que percebi, elas não desistiam, e nos levavam orgulhosamente para conhecer ex-campos de guerras, onde boa parte de seus ascendentes haviam sumido. Mas eles estavam vivos e tinham que seguir firmes o que as gerações anteriores haviam conquistado para eles.
 Percebi ali, o sentido da mobilização que tanto me falo meu amigo educador Bernard Charlot, algo que acontece de dentro para fora, desejo que não cessa. Meus amigos angolanos,  tinham uma causa por que lutar e essa causa era e é a Educação, lutariam pelas suas raízes, pelas suas histórias, mesmo que muitas delas tivessem sido interrompidas antes do “término”. O que eu mais escutava deles era: “Aqui esta nossa terra, campo sagrado”. E minha aprendizagem começou.
Toda vez que uma pessoa mais velha se sentava em nossa mesa, os mais jovens o escutavam, como quem escuta sua mais bela melodia e a única voz que conduzia a conversa, era a voz do mais velho, entre histórias e lágrimas, íamos tendo a oportunidade de escutar as mais tristes barbáries de uma guerra civil, jamais imaginada por nós e também a possibilidade de superação humana frente a tantas perdas.
Os ensinamentos se deram dia após dia, em alguns momentos eu me perguntava: A que vim ensinar aqui?  
Já no segundo dia naquele “paraíso” perdido, seria minha conferência e confesso que nunca me senti tão insegura com meu discurso. O cenário era um grande teatro, com todos educadores uniformizados com camisas vermelhas e amarelas, além dos bonés e o sorriso estampado naqueles rostos até então anônimos. Subi naquele palco, tremendo e comecei a falar, tecer palavras em frases e enredos. Ao final, fui aplaudida e a única coisa que me lembro de ter falado foi: “Eu prometo que me esforçarei para ser uma educadora melhor, que não esquecerei jamais minha causa”. Falar é uma arte de ser acolhida e naquele dia não segui meu protocolo, segui meu coração e confesso: Acho que dei minha uma boa conferencia.
Ao sair do auditório, conversei com vários nativos, mas o que Yasmin me falou, ressoa até hoje: - “Hoje somos livres, mas ainda não sabemos voar, mas voaremos, um dia... como Nelson Mandela nos ensinou”.
Não me lembro de ter me emocionado tanto, com frases, que eu já havia visto em filmes e lido em livros. Que sensação boa eu sentia. Eu só me lembrava do Brasil, homens e mulheres correndo atrás de cumprir suas agendas. Segui, naquele tempo com tempo para o Hotel, quando, escutei alguém me chamar. Era o educador Roberto, um jovem negro de 26 anos: - Professora olha aqui, estou engraxando meus sapatos, para o encontro da tarde, a senhora e eu merecemos. O que pensar? Não pensei, apenas senti.
E dia após dia, eu fui entendendo tudo aquilo que não sou e gostaria de ser.
Dia após dia, me pergunto: Porque corremos tanto?
E hoje, o que sei é que aqueles rostos, antes anônimos, HOJE,  tem nome.

JANE PATRICIA HADDAD


#janepatriciahaddad

REVENDO 2014 Entendi...


Revendo o ano de 2014, entendo que não temos o poder que achamos que temos;
A vida é instante;
O amor é algo que não se explica, sente-se;
Filhos são nossa essência, sejam eles biológicos ou de coração;
Luto, é de cada um;
Sorrir, nem sempre é sinônimo de felicidade;
O ano de 2014, me ensinou muito. 
Entendi, que nada é eterno, eterno é apenas um piscar de olhos!
Revendo 2014, entendi que sou FORTE e algo em outro plano me ajuda, me orienta e me faz uma pessoa melhor. Assim, sigo com coragem para 2015.
#janepatriciahaddad


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Provincia do Namibe (ANGOLA)

 Debater ideias educacionais com pessoas que se superam a cada dia, é um privilégio. Certezas, não me pertencem. Aprendi muito e trago na minha bagagem; olhares; contradições e muito desejo em continuar.
Quem sou eu na minha caminhada?
O que falo... a Palavra em movimento é a unica certeza até o momento.
Que venham outros desafios! Paz!

Escrever, uma conquista, oferecer um sentimento de GRATIDÃO...isso sim, me move sempre.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Província do Namibe

Uma Experiência de um "lugar Vasto"
Crianças antes anônimas, hoje passam a ter nome... Yasmin, Ana, Paulo... Olhares que conheci e jamais vou esquecer.
Crianças que sorriem com os olhos e conseguem comunicar o que as palavras não conseguem. Isso é uma experiência que jamais vou esquecer! 

domingo, 4 de novembro de 2012

Educar: Uma Escolha!


“Diante de tantas mudanças e avanços, embora não pareça, a escola passa a ser um referencial ainda maior para alunos e suas ‘novas’ famílias.”
A Educação encontra-se diante da impossibilidade de tudo saber e responder, não há certezas prontas e acabadas, o momento atual nos convida a fazer uma passagem, da certeza à incerteza. Das respostas prontas a perguntas em aberto. Vivemos um momento de travessia, com novas configurações familiares, aumento significativo da violência, avanço da tecnologia, mudanças e mais mudanças.
Diante de tantas mudanças e avanços, embora não pareça, a escola passa a ser um referencial ainda maior para alunos e suas “novas” famílias, lembrando que a escola é habitada por pessoas que também estão em processo de mudança.
Mudança sugere outra forma de pensar, agir e interpretar, olhar o cenário atual é reinterpretar os sinais visíveis e invisíveis; professores desanimados, alunos apáticos, famílias ausentes, escolas depredadas, uma educação em aberto.
Falar de educação é falar de vida, pessoas e relações que se estabelecem em um tempo e espaço.
Nessa perspectiva, proponho um revisita à nossa própria infância: na minha em especial ... Poucas lembranças habitam minha memória, porém, uma é presente: o CUIDADO das minhas, das suas, das nossas necessidades básicas, as de uma criança totalmente em estado de dependência. Chegamos ao mundo sem saber ao certo de onde viemos, onde estamos e para onde vamos. Aos poucos, marcas vão sendo parte de nossa história, compondo uma memória afetiva. Lembranças vagas: a forma em que fomos recebidos; o calor humano ou a frieza de alguém que apenas nos recebeu; o tom de voz em forma de melodia ou o grito desesperado; a primeira alimentação ou a privação do alimento; o desconforto do molhado ou o conforto do cuidado. Um cuidado como amparo.
Passado um tempo, a total dependência vai sendo mesclada com uma codependência (mãe - bebê), eles vão se distanciando e aos poucos aprendendo a cuidar de si ou cada um por si - se pensarmos aqui no momento atual em que nos encontramos. Lembranças vão sendo guardadas e substituídas por realidades, presença e ausência se misturam. “Nós, adultos, não compreendemos nossa própria infância” (Freud 1886, p. 10).
Nesse momento de codependência ou coausência, saímos do ambiente primário seguindo rumo ao secundário, ao nosso segundo mundo: a ESCOLA, uma instituição que ouvimos falar ser segura. É lá que iremos aprender a ler, fazer contas, brincar, conhecer pessoas novas e conhecer a querida professora. Segundo Meyer (2002, p. 8 ), quando a criança chega à escola, ela já traz consigo suas primeiras vivências com o saber apreendido em casa, suas relações com seus primeiros objetos de amor, seus pais.
Sendo assim, a escola passa a ser para a criança a continuidade de suas primeiras vivências em casa, que servirá como peça fundamental para o processo ensino-aprendizagem.
A aprendizagem no ambiente da Escola
Na perspectiva psicanalítica, a aprendizagem não foca os conteúdos, e sim o campo (vínculo) que se estabelece entre professor e aluno, o que pode favorecer ou não a condição para o aprender, independente dos conteúdos apresentados. Portanto, é importante compreender a transferência como “fenômeno universal da mente humana (...)” e que “domina o todo das relações de cada pessoa com seu ambiente humano” (Freud, 1976, p. 56). Um processo inconsciente, que pode se manifestar em sentimentos afetuosos e/ou hostis, que aparentemente podem não ter uma justificativa real, lógica. Muitas vezes são desafetos dirigidos ao professor, que não dizem respeito a ele e sim ao “lugar” que ele ocupa, ou ao que ele representa no discurso. Só assim o professor pode se tornar a figura a quem serão endereçados os interesses dos alunos.
A transferência se produz quando o desejo de saber do aluno se liga à pessoa do professor (com seu desejo de ensinar). O momento a que somos chamados diante desse quadro é o da coresponsabilidade, já que é na relação que se estabelece entre professor e aluno que pode ocorrer uma disponibilidade ao aprender.
O mal-estar que vem se instalando entre professores e alunos passa pelo endereçamento pessoal, ou seja, tomar a agressão para si é um erro que cometemos diariamente em nossas salas de aula e até mesmo em nossa vida pessoal.
De que modo é possível restabelecer o vínculo entre professor aluno? Reconhecer a importância de se diminuir o mal-estar nas escolas é buscar repensar um discurso que vem sendo sustentado em queixas e lamúrias. E levar em conta que o mal-estar é inerente ao ser humano, ele sempre estará presente.
Acredito que se pode propor uma reconciliação do possível com o desejável, do desejo de querer ser Professor, além do "estar professor" até que algo melhor apareça. Ser educador na atualidade é resgatar e legitimar seu lugar. Ser professor em um momento de tantas mudanças é perguntar-se: desejo ser educador? Estou a serviço de quem?
Quero ajudar a formar que tipo de sujeito?
O momento atual convida professores a mudarem de posição, saírem da queixa e passarem para a responsabilidade, ousar e reinventar uma nova forma de relacionarem-se consigo mesmo e com seus alunos. Saírem do lugar de espera: de serem cuidados, ora pela escola, ora pelo diretor, ora pelo médico, ora pela família. Esse cuidado deve vir de si, em primeiro lugar, para depois vir do outro.
Há uma urgência de um reposicionamento, cada um assumindo um lugar de autocuidado.
Existe um campo possível, o campo do autocuidado, para passarmos do eu-eu para eu-outro. Um cuidado que pode fazer uma conexão entre o possível e o desejável, como um começo para se pensar alternativas de sair do “mal-estar" educacional que vem afetando professores e alunos sob a forma de adoecimento. “Adoece o sujeito, por não conseguir simbolizar o mal-estar, não conseguir transformá-lo em palavras” (Diniz,1998, p. 206). Esse mal-estar estará evidente no discurso de professores, alunos, pedagogos e gestores se forem criadas oportunidades de escuta.
Repensar educação é começar a interrogar o mundo. De onde vem tanto fracasso escolar? Por que os alunos não aprendem na escola e, sim, fora dela? O que estamos ensinando?
Como olhar para o mundo
Olhar para o mundo hoje é aceitarmos que tudo é possível, o tempo-espaço mudou, no entanto, a educação ainda tateia seu lugar. Como compreender uma educação, um aluno, um processo, se muitas vezes não entendemos nossa própria origem?
Passeando por alguns pontos que me chamam atenção como educadora, observo que desde cedo pais e professores demandam que as crianças aprendam em determinado tempo e espaço. Prometem a elas que, ao estudarem, tirarem boas notas e serem bem comportadas, elas serão “bem sucedidas” na vida futura. Pode até ser, mas isso não é mais garantia. Defendo a ideia de que o tempo presente é que necessita ser repensado e reinterpretado. No futuro o ser bem-sucedido pode sim acontecer, porém, em sua relação com o tempo presente.
Enquanto a educação persistir em preparar o aluno para o futuro longínquo, para o mercado de trabalho mutante, ou mesmo classificando-o como fraco ou forte, vitorioso ou fracassado, do bem e do mal, continuaremos compactuando com uma educação como fim e não como meio.
Como proclamar novos discursos demagógico-pedagógicos, se crianças e jovens continuam sendo enfileirados, etiquetados e impostos a normas e regras rígidas, que nem eles mesmos reconhecem?
Na relação do aluno com o professor nem sempre há algo intencional, por parte deles, e sim um pedido de ajuda, uma fala solta, um olhar "pedinte". Acredito que tanto a Psicanálise quanto a educação podem propor uma reconciliação do possível com o desejável, uma forma de construir algo novo, partindo das relações subjetivas, do desejo de saber (aprender). Como diz Bernard Charlot (2000, p. 82), “a relação com o saber é o próprio sujeito, na medida em que deve aprender, apropriar-se do mundo, construir-se. E por que não a relação do cuidar de si para cuidar do outro”?
Afinal, de que educação tanto falamos?
Referências:

CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber – elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000.
DINIZ. “O mal-estar das mulheres professoras”. In: Lopes EMT ET AL. (Orgs): A Psicanálise Escuta a Educação. Belo Horizonte: Autentica,1998.
FREUD, Sigmund. "O mal-estar na civilização". In: ESB, vol. XXI. Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1976
Por Jane Patrícia Haddad
*Jane Patricia Haddad é pedagoga, com especialização em Psicopedagogia, Docência do Ensino Superior e Psicanálise. Atuou por mais de 20 anos em escolas como professora, coordenadora pedagógica e diretora, é consultora institucional e conferencista. Autora dos livros: “Educação e Psicanálise: Vazio existencial” e “O Que Quer a Escola: Novos Olhares resultam em Outras Práticas”, ambos publicados pela editora Wak, do Rio de Janeiro. Atualmente cursa o Mestrado em Educação na Universidade Tuiuti no Paraná, onde seu tema de pesquisa é a Indisciplina Escolar

Agendem esta data!

http://www.futuroeventos.com.br/educar/palestrante/jane-patricia-haddad/